Muitos adolescentes – especialmente meninas – desenvolvem uma espécie de obsessão por falhas percebidas em sua aparência pessoal, que muitas sequer existem. Uma sociedade que vende a utopia da perfeição para pessoas adultas, causando danos mentais a estas, imagina o que pode fazer com crianças e adolescentes que estão desenvolvendo suas personalidades e autoestima.
A distorção da imagem, chamada dismorfia corporal, ou melhor, Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é uma condição psicológica que se manifesta através de uma preocupação obsessiva por falhas percebidas na aparência física, muitas vezes invisíveis ou insignificantes para outras pessoas.
Recentemente, um estudo realizado na Inglaterra, publicado no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, apontou que cerca de 1,9% dos adolescentes (cerca de 2 em cada 100) sofrem com esse transtorno, sendo 6 vezes mais comum em meninas do que em meninos.
Essa preocupação excessiva com o corpo muitas vezes coexiste com outros transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão, e pode levar a comportamentos de automutilação e até tentativas de suicídio.
No Brasil, a realidade não é muito diferente. Estima-se que milhões de pessoas sofram com a dismorfia corporal, transtorno que se torna ainda mais evidente em um contexto de crescente pressão estética exacerbada pelas redes sociais e pelo culto à imagem perfeita.
Muitos pacientes buscam intervenções estéticas para corrigir seu “defeitos” ínfimos. O papel e a responsabilidade dos cirurgiões plásticos é de suma importância. É preciso reconhecer e se recusar a operar pessoas, sobretudo jovens, que aparentem estar acometidas de dismorfia. É preciso encaminhar o paciente para um profissional de saúde mental.
O Transtorno Dismórfico Corporal indica uma distorção grave da autoimagem e frequentemente resulta em um isolamento social significativo. Por mais que o paciente acredite que uma cirugia estética “corrigiria” o “problema”, os riscos de entrar em uma bola de neve são enormes.
É preciso cuidado redobrado com crianças e adolescentes. Elas aprendem conosco os valores exacerbados que damos à aparência física.
Ambos os contextos, tanto na Inglaterra quanto no Brasil, revelam a necessidade urgente de uma maior conscientização sobre o TDC, aprimoramento das práticas de triagem e facilitação do acesso a tratamentos psicoterapeuticos.
O diagnóstico precoce e o apoio psicológico adequado são essenciais para ajudar os indivíduos a superarem suas preocupações obsessivas com a aparência, e evitar consequências mais graves para a saúde mental e física.
Fontes:
- KREBS, Georgina et al. Epidemiology of Body Dysmorphic Disorder and Appearance Preoccupation in Youth: Prevalence, Comorbidity and Psychosocial Impairment. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, março 2024.
- Dismorfia corporal: transtorno atinge milhões de brasileiros; entenda. Artigo publicado no Jornal Estados de Minas, fevereiro 2023.