Uma das palavras mais usadas hoje em dia para definir o comportamento humano é “bipolar”. Bastou uma pessoa ter uma mudança de humor que pronto: é subitamente tachada de bipolar. Infelizmente, crianças também recebem esse carimbo dos pais, professores e amigos.
Ainda que de brincadeira ou sem querer machucar, chamar uma criança de bipolar pode sim causar danos à sua personalidade ainda em formação. Vejamos por que.
O termo bipolar, assim como tantos outros da área da saúde mental, entraram para a linguagem popular tendo seus significados muito distorcidos.
O que é ser bipolar?
O Transtorno da Personalidade Bipolar é um diagnóstico médico sério, que não tem nada a ver com as mudanças de humor que acontecem naturalmente com todos, sobretudo com crianças, pois elas naturalmente fantasiam e não sabem se expressar direito (nem nós sabemos!).
Pressupõe-se, muito resumidamente falando, que nesse transtorno, haja simbolicamente uma viagem do Everest à Fossa das Marianas, respectivamente os pontos mais alto e mais profundo da Terra.
E não precisa ser uma viagem tão brusca assim, como se alguém saltasse da montanha para o oceano profundo.
Entre um polo e outro (daí o nome bipolar, que dá a noção dos extremos), podem ocorrer ideações de sucesso ou fracasso, onde a pessoa se conecta com suas fantasias de grandeza ou pequenez, não sem se prejudicar por isso.
Ou seja, um transtorno precisa causar danos substanciais na vida de uma pessoa, por exemplo, comprar todos os equipamentos mais caros do mundo para subir o Everest, metaforicamente falando, quando objetivamente se sabe que não há condições de subir a montanha sem um devido treinamento prévio para isso.
E as crianças? Podem ser bipolares?
Crianças naturalmente fantasiam, e vão do Everest às Marianas passando por todos os lugares intermediários possíveis.
É muito complicado diagnosticar crianças com este ou qualquer outro transtorno mental. Isso porque, crianças estão em formação, seus cérebros ainda não estão prontos, estão se desenvolvendo e é absolutamente normal que elas tenham altos e baixos de humor, porque não sabem se expressar de uma maneira clara. Aí vêm as birras, os gritos e choros, acompanhados por euforia quando conseguem o que querem.
Nós da SOW Saúde Integral temos muito cuidado com diagnósticos precoces e irresponsáveis. Para nós, um diagnóstico, mesmo em adultos, não pode ser feito como se fosse uma lista de supermercado, onde grifamos o que tem e o que não tem na prateleira, que irá determinar a receita.
Enquanto a criança cresce com suas mudanças naturais de humor, façamos um grande favor a elas e à sociedade: paremos de usar carimbos prejudiciais como “bipolar” e outros. Saúde Mental é coisa séria!