Embora frequentemente associado à elite intelectual e financeira, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, também se dedicou a tornar o tratamento psicanalítico acessível a todos. Através da criação de clínicas ambulatoriais gratuitas, ele e outros psicanalistas buscaram democratizar a psicanálise para promover saúde mental e justiça social numa época de muitos desafios, entre duas guerras mundiais.
Em 1918, Freud proferiu um discurso no V Congresso Psicanalítico, onde instou seus colegas a tornarem a psicanálise um serviço público, criando instituições ou ambulatórios onde o tratamento deveria ser gratuito.
Inspirado por ideais social-democratas daquela época, Freud via a psicanálise como uma ferramenta para promover a saúde mental e o bem-estar social, desafiando as normas tradicionais que restringiam seu acesso à elite.
Motivados por essa visão, vários psicanalistas importantes (entre estes, Melanie Klein, Karen Horney, Erich Fromm, Wilhelm Reich e outros) se uniram para criar clínicas gratuitas. Entre 1920 e 1938, dez cidades em sete países diferentes abriram seus centros de tratamento, atendendo a uma ampla gama de pessoas, incluindo homens, mulheres e crianças de diferentes classes sociais e origens.
Os registros mantidos dessas clínicas revelam a diversidade impressionante dos pacientes atendidos e a ampla gama de problemas emocionais e físicos que eles enfrentavam. Desde trabalhadores domésticos até acadêmicos, pessoas de todas as esferas da vida procuravam ajuda nessas clínicas, desafiando a ideia preconcebida de que a psicanálise era exclusivamente para a elite privilegiada.
As clínicas obtiveram sucesso em tratar diversos transtornos psicológicos, além de contribuir para o desenvolvimento de novas técnicas psicanalíticas. Através do trabalho nessas clínicas, os psicanalistas aprofundaram sua compreensão da mente humana e das diversas formas como os problemas sociais podem afetar a saúde mental.
Esses esforços pioneiros não apenas democratizaram o acesso à saúde mental, mas também iluminaram o papel transformador das psicoterapias como uma ferramenta para a promoção da justiça social e inclusão.
Hoje, profissionais de várias áreas se unem para manter essa tradição, sabendo que as pessoas são frutos do ambiente e da época em que vivem. Do pequeno, do individual, para um grupo ou comunidade, a sociedade se transforma quando cada pessoa que nela vive se sente bem.
Saúde integral, física e mental, é um direito de todos. É isso o que buscamos, aqui na SOW.
Referência:
Danto, E.A. (2005) Freud’s Free Clinics: Psychoanalysis and Social Justice, 1918–1938 (New York: Columbia University Press)